Comer menos e treinar mais: quando o “wellness” disfarça o culto à magreza
- nutricionista04
- 29 de out.
- 2 min de leitura

Nos últimos anos, o termo “wellness” se tornou sinônimo de saúde, autocuidado e equilíbrio. Mas, por trás de receitas “detox”, treinos exaustivos e dietas “limpas”, muitas vezes se esconde um velho conhecido: o dogma da magreza, a ideia de que corpos mais magros são necessariamente mais saudáveis ou disciplinados.
Essa crença tem levado muitas pessoas a comer menos e treinar mais, acreditando estarem cuidando do corpo, quando na verdade estão diminuindo a performance e prejudicando a saúde.
1. Comer menos e treinar mais: o paradoxo da performance
A ciência é clara: sem energia suficiente, não há desempenho. O corpo humano precisa de calorias não apenas para sustentar o treino, mas também para regenerar tecidos, manter funções hormonais e apoiar o sistema imune.
Quando a ingestão energética fica muito abaixo do gasto, gera baixa disponibilidade energética (LEA — Low Energy Availability). Estudos mostram que essa condição está associada a:
Redução da massa muscular e da força;
Diminuição da testosterona e dos hormônios tireoidianos;
Menor densidade óssea e risco de lesão;
Fadiga crônica e queda de rendimento.
Em atletas femininas, 14 dias de restrição calórica severa resultaram em queda de 7,7% na performance de resistência e perda de massa magra (Neuroscience News, 2024). Ou seja, o corpo “paga o preço” quando a balança da energia se desequilibra.
2. Treinar mais não significa treinar melhor
O excesso sem suporte nutricional adequado compromete a recuperação, reduz a capacidade de adaptação e aumenta os níveis de cortisol (hormônio do estresse). Em vez de evoluir, o corpo entra em modo de defesa: economiza energia, reduz o metabolismo e passa a “degradar músculo” para manter funções vitais causando, consequentemente:
Queda no rendimento;
Sensação de cansaço constante;
Alterações no humor e sono;
Dificuldade em ganhar força ou massa muscular.
Treinar é apenas um estímulo — o progresso acontece na recuperação. Sem alimentação adequada e descanso, não há evolução possível.

3. O mito da “saúde estética”
Palavras como clean eating, detox, fit body e lifestyle saudável são frequentemente usadas para validar o mesmo ideal estético de magreza, agora disfarçado de bem-estar.
Esse discurso induz pessoas a comportamentos como: restrição alimentar, sobrecarga física e insatisfação corporal. Ao perpetuar a moralização do corpo magro, a sociedade gera hábitos disfarçados de virtude:
“Limpar” a alimentação passa a significar cortar grupos alimentares inteiros;
“Ser disciplinado” vira sinônimo de restringir prazer e descanso;
“Buscar performance” se transforma em uma corrida estética.
Evidências apontam que a adesão a esse tipo de cultura está relacionada a maior ansiedade, culpa alimentar e risco de transtornos (Revitalize Wellness Counseling, 2024).
4. Redefinindo o verdadeiro wellness
A verdadeira saúde (física, mental e emocional) não se mede por tamanho, peso ou aparência. Ela está em sentir energia, dormir bem, recuperar-se adequadamente, ter força, disposição e prazer no movimento.
O corpo ideal é aquele que te permite viver bem. A verdadeira evolução acontece quando você alimenta o corpo para performar, descansa para crescer e se movimenta para viver melhor, não para caber em um molde.





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